No começo deste ano, uma moradora de Botucatu iniciou uma jornada para encontrar alternativas para retirada de um tumor que foi identificado no pescoço do filho. A gerente Fernanda Ohara conta que a lesão tumoral foi localizada após uma cirurgia de retirada de uma das amígdalas do filho, Pedro Henrique, de 10 anos.
A mãe conta, em entrevista ao g1, que Pedro foi encaminhado para um otorrinolaringologista após a pediatra dele identificar um aumento considerável nas amígdalas e que poderia ser um indicativo de linfoma, que é o nome técnico dado ao câncer no sistema linfático.
O especialista indicou a retirada de uma das amígdalas, procedimento muito comum em crianças, já em janeiro de 2024. “Assim que terminou a cirurgia, ele me falou que o Pedro apresentava a parede atrás da amígdala um pouco mais abaulada e que precisávamos investigar o que tinha ali”, explica a mãe.
Em uma tomografia computadorizada, a lesão tumoral foi laudada, mas sem a certeza se era benigno ou maligno.
Fernanda conta ainda que o diagnóstico a surpreendeu, já que o Pedro Henrique sempre fez acompanhamentos com tomografias por conta de uma válvula de drenagem que foi implantada no garoto ainda criança em decorrência de um quadro de hidrocefalia ao nascer.
“Eu tive uma sensação de morte, eu queria morrer de ouvir aquilo, porque eu fiquei muito amedrontada, com muito medo de perder meu filho. O primeiro medo era de ser maligno, e aí quando vem o diagnóstico de que dificilmente seria maligno, mas tem que operar, você respira e ouve que a região é de difícil acesso, volta o medo, porque você sabe que precisa tirar, que aquilo não pode ficar ali, mas é uma cirurgia delicada”, explica.
Todo o histórico de tomografias feitas pelo menino foram apresentadas para o médico especialista, que notou a lesão em um exame realizado há 2 anos, mas que não foi percebido pelos profissionais na época.
Tumor foi identificado em um exame de tomografia computadorizada — Foto: Arquivo pessoal
Busca pelo tratamento
O caso de Pedro foi encaminhado para a equipe de Oncologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Unesp de Botucatu (HCFMB). No centro médico, novos exames foram realizados no garoto, que mostraram que as características da formação pendiam para uma lesão benigna.
Apesar da probabilidade de ser benigno, o tumor está localizado em uma região muito próxima às artérias carótidas, responsáveis pela irrigação sanguínea do cérebro.
O tamanho do tumor também chamou atenção dos médicos. Fernanda conta um episódio onde a protuberância do tumor foi confundida com as amígdalas, que Pedro já havia operado e retirado.
“Um médico foi examinar o Pedro e disse que estava vendo as amígdalas, que havia sido operada, neste momento eles olharam para mim e viram como eu estava assustada.”
A recomendação dos médicos foi para que o tumor fosse removido em um procedimento cirúrgico, levando em consideração a possível evolução do quadro e a proximidade com artérias importantes.
O procedimento cirúrgico oferecido pelo HCFMB, por outro lado, é invasivo e a investida contra o tumor aconteceria através de um corte na garganta e até serragem da mandíbula. Ainda de acordo com Fernanda, os médicos explicaram que não viam um caso como do Pedro há mais de 10 anos e que operações desse tipo em crianças eram muito raras, o que aumentou a angustia da mãe.
“Ali eu já não sabia se era benigno ou não, se fazia bem operar ou não, quais os caminhos, qual atitude eu tomaria. Nisso, meu ex-marido que estava com a gente na consulta insistiu se não podíamos somente acompanhar a evolução até ele ficar maior” lembra Fernanda.
Pedro tem 10 anos e precisa fazer retirada do tumor para maior análise — Foto: Arquivo pessoal
Busca por alternativas
Fernanda conta que a equipe do HCFMB disse que poderia até acompanhar a evolução do caso, mas aconselhou que um novo laudo fosse feito, desta vez de um hospital particular referência neste tipo de tumor, localizado na capital.
Os pais juntaram recursos com amigos e familiares para uma nova avaliação no hospital particular, que após mais exames, apresentou uma nova possibilidade à família: uma cirurgia robótica realizada pela boca do paciente.
Porém, ao pesquisar sobre o procedimento, a família descobriu que ele não é realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e nem coberto pelo plano de saúde deles, que argumentou que sua cobertura é apenas regional e que não cobria procedimentos na capital.
Em meio a todo processo, desde a busca por um diagnóstico e a corrida pela cirurgia menos invasiva, a mãe afirma que o medo pela vida do garoto é constante.
Pensando nisso, a mãe começou uma campanha pelas redes sociais para arrecadar os fundos totais para a realização da cirurgia no hospital da capital, que soma o valor de R$157 mil.
“É um medo apavorante. Eu passo os dias pensando nisso, não consigo dormir. Porque não é só conseguir a cirurgia, precisamos de um médico especialista para que não corramos o risco de perder meu filho na cirurgia e que ele não fique com sequelas, ele tem apenas 10 anos e uma vida toda pela frente”, afirma.
Além disso, a família também pretende procurar a via judicial para conseguir que o plano cubra o procedimento com especialista e tem buscado também outras opções de cirurgias com profissionais especializados e menos invasivas em hospitais do país.
“A gente tá tentando outros hospitais que possam operar ele, mas que tenha um especialista que opere criança, que veja esse caso, que opere tumores nessa região, porque esse é o medo que eu tenho, de um médico que não tem experiência operar, é um tumor muito próximo da carótida, então precisa ser alguém com experiência na área. Vamos entrar com a ação judicial para ver se a gente consegue todos os caminhos, estamos buscando todas as formas.”
Fonte: G1