O Ministério Público de São Paulo abriu um inquérito civil, nesta terça-feira (23), para investigar a morte de gatos que passaram por cirurgia de castração oferecida gratuitamente pela prefeitura de Mogi Guaçu (SP). Ao todo, oito felinos faleceram após procedimentos realizados no dia 16 de setembro por uma empresa terceirizada.
O documento avalia a necessidade de apuração dos fatos que podem envolver maus tratos a animais e possível irregularidade de serviço público.
O MP também pede que a prefeitura “preste informações específicas e atualizadas” informando as investigações que já realizadas e quais providências foram adotadas em relação aos casos, dentro do prazo de 30 dias.
Na última sexta-feira (19), a administração municipal anunciou o cancelamento do contrato para a realização do serviço. No mesmo dia, a Secretaria Municipal de Bem-Estar e Defesa Animal também informou que a necropsia dos gatos está em andamento para apurar as causas das mortes.
Em nota, a pasta se solidarizou com os tutores e disse que exigiu que a empresa ofereça todo o suporte necessário a eles. Informou também que o lote da medicação utilizada durante os atendimentos será enviado para análise da fabricante.
Segundo a Secretaria, as castrações fazem parte de uma iniciativa para controle de natalidade de cães e gatos no município, “com mais de 150 operações bem-sucedidas realizadas por meio deste mesmo contrato, sem intercorrências.”
Na época, a empresa contratada para realizar os procedimentos informou que acompanha o caso e que irá prestar todas as informações à prefeitura. Disse também que os medicamentos não serão utilizados até a conclusão da apuração e que aguarda os resultados laboratoriais.
Relembre o caso
Ravena tinha 6 meses e apresentou um quadro de infecção generalizada. Ela morreu na madrugada de domingo (21), cindo dias após a operação. Segundo a tutora, no dia do procedimento a gata ficou mal e chegou a ser submetida a uma reanimação.
Já em casa, Ravena não se alimentava e nem brincava. A tutora conta que levou a gata para ser atendida em uma clínica particular na cidade, onde o pet chegou a ficar internado por dois dias, mas não resistiu.
Ainda na clínica a gata passou por um exame de imagem que teria constatado a presença de muito líquido na região abdominal, baço rompido e o fígado comprometido. Um exame para identificar a causa exata da morte deve ser feito nos próximos dias.
Um boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia Seccional da cidade, na quinta-feira (18), já que, além de Ravena, a tutora havia levado outros dois gatos para o serviço de castração oferecido pela prefeitura. Flor, também de 6 meses, foi entregue morta à família no dia da cirurgia.
O terceiro gato tem 1 ano e não apresentou sintomas após o procedimento.
‘É a anestesia’
A tutora de dois gatos mortos após o serviço de castração conta que, depois de ter a notícia que “estava tudo bem”, recebeu os animais desacordados. Ao questionar a profissional que a atendeu, recebeu a informação que o quadro “era da anestesia”.
“[Perguntei] ‘Ela tá desmaiada, é normal?’ Ela falou assim: ‘não, é normal, é anestesia’. Peguei e trouxe embora, e coloquei num tapete em casa. Deu um tempinho e eu voltei. No que eu coloquei a mão nela, ela já tava dura. Já entregaram morta”, afirmou Ingrid Lays Rosa.
Ingrid afirma que os animais eram saudáveis e recorda que ao buscá-los após a castração, estranhou a demora na entrega e ouviu outra pessoa recebendo a notícia da morte de dois de seus três gatos.
Marina Fernandes levou seus três gatos, uma fêmea e seus dois filhotes, que morreram no procedimento. “A mãe é uma sobrevivente”, diz.
Quem foi retirar os animais foi a professora de educação especial Ana Paula de Almeida. Ela conta que o secretário só comunicou a morte dos animais sem dar mais explicações.
“O secretário Nei (Claudinei) só chegou pra gente e falou assim: o seu morreu. Tinha uma pessoa já lá chorando, porque tinha morrido também. Aí ele chegou em mim e falou assim: ‘você trouxe três’. Eu, na maior animação, falei ‘trouxe três’. E achei que ele fosse buscar a caixinha com os três. Aí ele falou que morreram duas. E foi só assim”, narra a professora.
Ana Paula relata ainda que pediu um documento sobre o problema, e recebeu um papel escrito que os gatos tiveram problema respiratório.
Fonte: G1